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“Prepare-se para a glória”



Força e inteligência são atributos que geralmente seguem caminhos paralelos. Se por um lado um homem decide dedicar sua vida ao estudo e conhecimento, poderá desenvolver pouco seu porte físico. Porém a exceção desta “regra” é exatamente o que leva os Espartanos apresentados em 300 à glória.
Esparta é claramente um lugar de guerreiros (evidenciado na montagem inicial do filme, onde o narrador revela o “processo de seleção dos nascidos”, quem não era perfeito era simplesmente descartado). O que parece ser preconceito na verdade é a construção de uma sociedade de perfeitos guerreiros, aptos para o combate e sem medo da morte. Cruel? Claro.

Obs.: 300 é um filme que mistura fantasia e realidade, não hesitando em fazer leves mudanças nos fatos históricos, como por exemplo, a nunca citada escravização promovida por Esparta, com intuito de torná-los mais “heróis”.

Mas se por um lado a sociedade espartana se mostra cruel e preconceituosa quanto a deficiências físicas ou mentais, por outro a mulher espartana é tratada como parte fundamental de Esparta, afinal são elas que geram os guerreiros, falando de igual para igual com os homens. De igual para igual também parece ser a relação Rei e Conselho. Onde o rei Leônidas nada pode fazer sem a aceitação desse Conselho (que se mostra envolvido por corrupção).


O filme se passa no período em que o gigante Império Persa comandado pelo deus-rei Xerxes domina tudo o que vê pela frente. E pela frente está Esparta que deve decidir se permite uma invasão passiva da Pérsia, ou entra em uma guerra suicida contra um exercito nunca antes visto. Obviamente, Esparta, uma terra de guerreiros, não iria ceder tão fácil.

O filme também tem uma pesada carga de fantasia, trazendo elementos mitológicos como o Oráculo, o qual o rei Leônidas não deveria contradizer. Mas ao não receber a resposta esperado quanto a entrada de Esparta na guerra, Leônidas se vê em uma difícil situação: não entrar em guerra com os persas e perder a liberdade ou entrar em guerra mesmo contra a permissão do Oráculo?

Nesse momento de dúvida e indecisão de Leônidas, é sua esposa (Rainha Gorgo) quem diz as palavras que abrem sua mente. Leônidas e seus guerreiros devem lutar pela liberdade. Sem a permissão do Conselho (subornado pelos Persas), Leônidas entra em batalha com somente 300 soldados de sua escolta particular.


Como uma metáfora de Davi e Golias, Esparta e Pérsia se enfrentam. Mas o que leva Esparta a tanto sucesso diante do gigante número de soldados persas é simplesmente a inteligência somada à força (ditas no inicio do texto).

A diferença das técnicas de combates espartanas é impressionante. E isso é mostrado na tela com maestria pelo sempre sensacional diretor Zack Snyder (o mesmo de Watchmen) que insiste em aplicar câmeras lentas somente para que possamos “saborear” cada golpe de Leônidas e sua turma, que combinado com a trilha metal de Tyles Bates completa o visual de 300 com louvor.

O filme com aspecto totalmente estilizado impressiona por mostrar cada cena como um quadro (realmente da vontade de capturar um frame do filme emoldurar e pendurar na parede do quarto). Contando com o forte efeito sépia, esguichos de sangue e, a já dita, câmera lenta, chega a ser irônico o modo como cenas de matanças cruéis possam ser tão... belas.

Ao final, (mesmo que não seja dito) Leônidas se sacrifica por Esparta. Sua morte desencadeia o apoio de toda Grécia na guerra contra os persas.

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Final feliz pode ser a covardia de uma história.

300 não tem um final feliz, o herói (ou anti-herói?) não cumpriu seu objetivo diretamente (veja bem: não cumpriu DIRETAMENTE), morrendo antes disso. Mas o que pode parecer triste, na verdade, nada mais é do que belo e respeitoso.
 Em alguns filmes (o caso de 300) um final feliz nada mais é do que uma covardia com o espectador. Imagine o quão ridículo seria se mudassem a história, fazendo com que Leônidas, mesmo com um exército de 300 homens vencesse os milhões de persas.
300 é um filme que tem respeito. Não tem medo de dizer o que realmente aconteceria. O mundo é cruel e triste, mortes acontecem e para um guerreiro como Leônidas nada é mais belo do que morrer em batalha.

- Lucas Maranhão